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sábado, 4 de abril de 2015

Favas e universidade

Favas contadas....novamente, o movimento sindical deu o alerta sobre esses problemas, logo que começou a ser criado o CESNORS... Dizíamos que não eram problemas iniciais, que seriam resolvido com o tempo. Não havia essa intenção, inclusive no discurso dos articuladores locais. A lógica do governo transparecia: criamos e vocês se viram. Assumiram cargas horárias e responsabilidades acima do que a sensatez apontava, em uma região com transporte precário, com telefonia pífia. Prédios superlotados, saturados de cursos e boas intenções... Como não lembrar da morte de um funcionário terceirizado, que trabalhou no final de semana justamente para dar conta dos prazos, que se acidentou e somente foi encontrado dias após.
Por falta de técnicos, atividades práticas dos cursos de Jornalismo e Relações Públicas estão sendo adiadas
ZH.CLICRBS.COM.BR

Sobre um milico de nome Rondon




Tropecei a vida inteira em histórias desse militar... Por ter herdado, por pura admiração de meu pai, o sobrenome que, para mim, virou nome, ouvi toda minha infância e parte da adolescência fatos verdadeiros, inventados e/ou exagerados. Todos, no entanto, retratavam um homem corajoso, firme, decidido, honesto como poucos...e simples, a ponto de refugiar-se da fama que o perseguia. Ouvi dizer que acumulou terras, que usou e abusou de indígenas...nunca vi, em minha vida de jornalista, qualquer documento ou questionamento documentado do caráter desse homem. Por essa razão, tem o status de herói para mim, daquele herói modelar que cumpriu um papel para sua comunidade, para a nossa sociedade chamada Brasil. Um velho comunista, já morto, que teria participado da Coluna Prestes, me disse, certa vez, que o único comandante militar que havia detido decididamente a marcha pelo Brasil fora ele. Com um número ínfimo de soldados. Teria acabado ali, no Mato Grosso, a peregrinação dos comunistas liderados por Luís Carlos Prestes... Rondon os cercara, mas permitira que aproveitassem uma brecha para fugissem e se embrenhassem na Bolívia... A razão? Rondon cumpriu as ordens superiores de "cercar" e "dar combate" aos comunistas, mas alimentava uma simpatia pelos ideais de Prestes. Cercou, deu combate mas não impediu que fugissem... Meu pai falava do "morrer se necessário, matar nunca", que levava ao desespero seus comandados sob a chuva de flechas indígenas...Foi talvez o primeiro brasileiro a fazer algo em defesa dos indígenas, política inicial que em efeito cascata nos trouxe à discussão atual, ao respeito aos direitos e à vida desses povos. Com um ex-presidente norte-americano, percorreram a extensão do Rio da Dúvida...Quase morreram, mas até hoje é um dos relatos de expedição mais repleto de aventura, coragem e heroísmo.
Não sei porque pensei nele e nas histórias que rondam esse homem, mas sei que o Brasil de hoje precisava de gente como ele, com ou sem uniforme, mas com toda a sua coragem de fazer a história andar. Depois dele, o Brasil ficou melhor.
Vejam só o que manuel Bandeira falou dele, por ocasião de sua morte, em 1958:
Cronista do Jornal do Brasil, Manuel Bandeira publicou em sua Coluna de 22 de janeiro de 1958 a seguinte homenagem à Rondon:
"Há homens que precisam morrer para que se calem as reservas à admiração que suscitam quando vivos. A atividade deles é dessas que não podem deixar de dividir violentamente os seus semelhantes; despertam assim ódios, rancores, desconfianças, mas difíceis de vencer do que os inumeráveis perigos da selva selvaggia. Foi o caso de Ruy, de Nabuco, de Rio Branco.
Rondon, não. Teve a fortuna de antegozar na reverência, na estima dos seus contemporâneos unânimes a nomeada póstera indestrutível. O consenso nacional há muito o havia distinguido como uma das glórias mais puras do Brasil. Ainda que não tivesse realizado a obra científica e social que cumpriu - essa obra que outro brasileiro de exceção e seu companheiro de trabalho, Roquete Pinto, louvou como não podendo ser assaz admirada, havia em Rondon uma tão impressionante presença das mais nobres virtudes humanas - coragem, probidade, desinteresse, que só elas justificariam as homenagens que lhe vemos tributadas no momento em que o perdemos.
Militar, não foi desses milicos que usurpam o prestígio do Exército para desferir golpes de força em proveito de suas ambições pessoais: generais que poderiam repetir como suas as palavras de Shakespeare pôs na boca de Ricardo III: Our strong arms be our conscience, swords our law. O prestígio do Exército vem precisamente das excelências de soldados como ele.
Abrindo estradas nos recessos mais inóspitos do sertão, aparelhando-os de linhas telegráficas a transmitir o que um pareci poeta chamou "a língua de Mariano", conquistando a amizade dos silvícolas, compreendendo-os, protegendo-os, inscreveu Rondon o seu nome na extensão de todo o Brasil: na verdade as dimensões do seu nome são hoje as do Brasil. A sua glória transcendeu a própria pessoa, porque ele soube acordar as energias, a abnegação dos que serviram como seus companheiros de sertanismo, homens heroicos, soldados quase desconhecidos dessa autêntica epopeia que foram as entradas de Rondon.
A vida de Rondon é um conforto para todo brasileiro que ande descrente de sua terra. Ela mostra que nem tudo é cafajestada nestes nossos oito milhões de quilômetros quadrados".



Falta de leitores no Brasil

A ausência de leitores no Brasil é uma triste realidade há muitas décadas. Cecília Meirelles afirmava isso na década de 30 (havia livros nas bibliotecas vazias)...existem explicações e justificativas, a começar pelo tardio começo da indústria livreira no país, depois da II Guerra Mundial (antes disso, havia poucas e heroicas iniciativas), que coincidiu com o crescimento explosivo do uso do rádio e do surgimento da televisão. Ou seja, antes que o livro se estabelecesse como O instrumento, já contou com a concorrência de outras plataformas que, rezava a modernidade, seriam substitutos certos da leitura. Não é sem razão que o jornal impresso teve nada menos que sete vezes o anúncio de seu fim...a cada nova tecnologia, a leitura passava a ser ameaçada. É óbvio que foram afirmações afoitas que não coincidiam com a realidade. A leitura continua, mas cada vez menos procurada, mesmo que sempre tenha sua importância realçada. O e-book veio para "chutar" o objeto em si, mas não resolveu o problema da leitura: tropeça-se na virtualidade do texto justamente porque não há leitores, tenha quantos e quantos textos literários disponibilizados. Não é isso o que importa. A freqüência com que ocorrem as tais feiras dos livros me incomoda diante desses dados: como podemos vender cada vez mais a cada ano e termos cada vez menos leitores? Me parece que os livros são comprados por "senso comum", pela ausência de justificativas contrárias a ele....aliás, apesar da "não" leitura, tê-los ainda é um ponto de valorização social. Talvez seja por isso que os textos acadêmicos da atualidade temam a opinião pessoal do autor, mas valorizem o abaixo-assinado bibliográfico que se segue a um texto sem conteúdo. Por acaso, a produtividade da ciência brasileira não é medida pelo bem que essa ou aquela pesquisa leva à sociedade, mas pelo número de citações (do autor) em outras publicações. A falta de leitura é estimulada até para a entrada nas universidades: exige-se a leitura de clássicos pelos adolescentes (não sei se Machado de Assis, Lima Barreto, José de Alencar são leituras adequadas aos jovencitos....), mas se permite ou se faz vista grossa para as sinopses e explicações técnicas voltadas ao candidato "acertar" a pergunta. Ou seja, é um engodo....não se leu, não se aproveitou a riqueza do texto para valorizar o próprio vocabulário. Creio que há uma conspiração silenciosa contra o livro... nos teclados dos computadores e seus chips e o próprio mercado, com a concordância da própria estrutura do governo (não só o medíocre atual, mas os demais), que insistem que qualidade de vida é andar de avião, comprar carro e se endividar. Há uma política que privilegia o hedonismo como forma de vida, não o esforço individual para fortalecer o coletivo, nos tornarmos melhores como cidadãos. E cidadão, não é apenas o que berra apenas pelos direitos, mas principalmente, aquele que enxerga os deveres para com o mundo. E o dever de folhear livros é algo mais que um prazer individual, é algo que exige esforço, trabalho, determinação para mergulhar nesse mundo do imaginário e trazer as ideias para o real. Não é fácil e nos faz falta. Cada vez mais.