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quarta-feira, 26 de fevereiro de 2020

A direita já não quer o fascista

Presidente Jair Bolsonaro durante cerimônia no Palácio do Planalto
05/02/2020 REUTERS/Adriano Machado
Isolado e alvo de fogo "amigo"

Bolsonaro é um fascista.  Dito isso, tudo o que esse sujeito de baixa cultura, misógino, homofóbico, xenofóbico etc etc faz tem sua explicação nesse viés ideológico.  Me surpreendo com o fato dele ter, um dia, frequentado os corredores da Agulhas Negras, não pela vertente de direita babante que escorre dos cantos de sua boca, já que aquela instituição de caracteriza pelo tradicional reacionarismo idiota que, ora, encontra reverberação no Planalto, mas principalmente pelo atual presidente ser um bronco ignorante, medíocre, de ser uma nulidade, um nada.  Compreendo até as razões do Exército Brasileiro o ter reformado precocemente: como  militar, ele era um problema...um terrorista das causas salariais, do próprio umbigo, das ameaças e bravatas de boteco... Cresceu politicamente justamente pelo vazio de poder que sempre existiu no Rio de Janeiro, nas duas faces de uma mesma moeda da criminalidade carioca e da corrupção policial.  Teve respaldo porque seus votos, como vereador, deputado estadual e federal foram referendados pelo cabresto das milícias, dos policiais maltratados pelo Estado e das populações miseráveis acossadas pelo tráfico e sob a proteção violenta das quadrilhas de ex-policiais.  É um político que as conveniências do crime mantiveram no legislativo por quase trinta anos sem que fizesse qualquer projeto significativo.  Nada.  Mantinha apenas o discurso violento, venenoso, conveniente para uma direita saída do poder com o fim da ditadura...  Digo nada, mas fez, prestigiou o ilícito, condecorou criminosos.. Não é de estranhar que faça a mesma coisa no poder...medalhas, medalhas e medalhas.

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Miliciano morto, que foi condecorado a pedido do fascista

Virou um presidente e de antemão, o pior deles, sob o ponto de vista da direita e esquerda, na crista da onda de descontentamento de uma oposição que administrava (mal) o capitalismo, pintando-o com discurso social...e alijada do poder pelo impeachment do que eu mesmo considerei um dos mais medíocres governos brasileiros... Foi eleito pela desesperança que a esquerda se recusou a enfrentar, foi eleito pela crise que o próprio capitalismo provocou...foi eleito pela busca do lucro.  Bolsonaro rejeita a democracia, não a quer e tem medo dela...na democracia, o fascismo se dissolve, é contido, é empurrado de volta à sua insignificância.  Não há fascista que suporte o contraditório.
Não há o que estranhar com os ataques à imprensa e aos jornalistas, não há o que estranhar os ataques ao judiciário.  É disso que o fascismo vive.

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Tema de Carnaval

Bolsonaro e asseclas foram eleitos porque a direita não tinha algo melhor, não tinha outro que se propusesse a ser manipulado... ele nunca escondeu não ter qualquer condição para o cargo, que desconhecia os mais básicos conhecimentos...mas cumpriu a pauta de se aliar com o seu atual ministro da economia, Paulo Guedes, representante dos setores mais execráveis do país, do mercado financeiro tanto nacional como internacional... A ele Bolsonaro se dobrou, desde que ficasse como presidente, alimentando um caráter mais egocêntrico do que político, seu governo vai de mal a pior...o PIB desaba, a indústria se enrola e a agropecuária se desmonta... Uma bomba de tempo a vir explodir... O desemprego aumenta, a educação se desfaz, a cidadania se desconstrói pela miséria.

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Até a Mancha Verde criticou o fascista

O presidente fascista foi eleito por uma direita que não o quer mais...é um incômodo querer ser o presidente que deseja, um bronco, ignorante e...solitário.  O mercado financeiro tem o caráter do lucro agora, do já, do já é tarde.  A partir do momento que Bolsonaro deixou de ter o respaldo de "namoro" com a platéia e passa a prejudicar o andamento de negociações que adiem o lucro imediato, ele é descartável.  Não há tantos fascistas no governo, mas aliados que se movimentam para anular o presidente, torná-lo peça de decoração...do "sim" para tudo.  Temos um quase-ditador enfraquecido, que apela para um público que dificilmente o apoiará para um golpe contra o congresso, que alimenta desavenças...que desconfia de traições dos aliados, que sequer consegue ter um partido... não há nenhum partido que queira abrigar o discurso fascista, da violência desagregadora...

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Fazendo arminha

A direita financeira, a direita que golpeia a democracia pelo simples e objetivo de lucro rápido descarta aquilo que a afasta do dinheiro...e Bolsonaro sabe que não tem apoio, que está ficando sozinho, ele mesmo descartou o seu partido de origem.  Até dia 15 de março, dia marcado para um ato de apoio ao seu governo e contra o congresso, muita água irá rolar por baixo da ponte.  Não creio que o fascista ainda tenha respaldo popular.


sexta-feira, 7 de fevereiro de 2020

Requiém para um amigo que se foi



Quiça eu esteja errado e haja algo depois da morte.  Que exista um D'us e não o deuses das religiões, uma entidade que se importe com o mundo que criou, ainda que rapidamente, em seis dias e descansado no domingo.  Queria se convencido, mesmo que nada de paraíso, mar de amor, vida eterna, alma, outra dimensão, mundo dos espírito seja verdade... Não consigo, mas queria acreditar, para ser conformado com a ideia de que entes perdidos possam ser uma estrelinha a brilhar no céu, um cometa, etc... A dor da perda é imensa justamente porque não tenho mais a esperança de conviver com aqueles que me fazem bem, que me davam sua companhia de defeitos e qualidades... Sou imperfeito e os outros também são.
Perdi minha companhia, meu cachorro...o Argos.  Entre muitos outros cães, era o meu amigo. Acho estranho falar da perda de um animal...  Lamento perdê-los, mais ou tanto quanto muitas pessoas...sou responsável pela vida de alguns deles, alguns se foram sem que eu pudesse fazer alguma coisa, simplesmente morreram porque suas vidas são menos longas que as nossas.  E se metem em confusões que os levam a esse outro mundo que me recuso a aceitar existir.
Mas como disse, gostaria de estar errado...de acreditar que posso ter uma chance para pedir desculpas pelas coisas estúpidas que já fiz, para agradecer a convivência, pelo trabalho que dei, por minha negligência com o outro...queria estar errado e crer que terei uma segunda chance de não ficar mal com ninguém.
Meu Argos se foi, eu o matei, o entreguei para a eutanásia.  O fiz para reduzir a dor dos tumores que o consumia, que dificultava seu respiração, o convulsionava, o torturava .. mas na verdade, o fiz por ser seu amigo e querer estar errado, de esperar encontrá-lo do outro lado, em algum lado... de vê-lo sempre a buscar ficar próximo, olhos me seguindo, focinho apontando para meu rosto... quando não patas sobre meu peito... Eu o matei por ser seu amigo e ninguém mais que um amigo pode fazê-lo...livrá-lo desse mundo onde uma doença dessa também é a suposta criação desse D'us que eu quero crer existir.  Não pude fazer nada para mantê-lo nesse mundo...ele me esperou para se ir, ou para que eu me despedisse e decidisse por ele.
Acho que os cães existem para isso, para nos ensinar mais que nos fazer companhia...a dizer: isso não é importante, o importante é que estamos juntos, que estamos bem e nos encontramos sempre que queremos e podemos.  Nos diz que as estrelas e a lua existem para serem cultuadas em uivos pela noite.  Que o seu espaço é o nosso espaço.  Que o Sol é nosso cobertor.  Que a leitura de um livro é bom, mas ser o conteúdo de suas páginas melhor...

Ulisses reencontra Argos depois de 20 anos...
Não levei vinte anos para reencontrar meu Argos...eu o deixei são - ou parecia estar - e voltei voando quando soube que não o teria mais comigo...pensei que minha presença fosse mágica, que o poder da amizade o salvasse... mas se sequer acredito em deuses, como posso me convencer de ter algum poder para salvar meu amigo? Não tenho poder e não posso salvar ninguém, nem a mim mesmo...


...o cão finalmente morre, magro, esquálido e sobre um monte de estrume...
Comigo por perto ou não, era meu guardião...o que me recebia, mesmo cambaleante e alquebrado pela doença, no portão da casa. Talvez quisesse acabar por si, deitado no cimento da área ou no gramado...eu não deixei.... Não sei se a coincidência ou o acaso do nome vale, mas sua morte me aponta uma Ítaca pessoal em declínio, uma fase de minha vida que se vai, que não me cabe mais.  Argos se foi e me diz que não contarei com ele para refletir com ele... Existe pessoas que falam com imagens de santos nas igrejas, ou para cruzes ou para livros sagrados...eu falava com ele e o ouvia...
- D'us, que eu esteja errado e ainda possa encontrá-lo! Quiça...


Com espinhos de ouriço na boca

Rara foto que me permitiu tirar