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sábado, 4 de abril de 2015

Falta de leitores no Brasil

A ausência de leitores no Brasil é uma triste realidade há muitas décadas. Cecília Meirelles afirmava isso na década de 30 (havia livros nas bibliotecas vazias)...existem explicações e justificativas, a começar pelo tardio começo da indústria livreira no país, depois da II Guerra Mundial (antes disso, havia poucas e heroicas iniciativas), que coincidiu com o crescimento explosivo do uso do rádio e do surgimento da televisão. Ou seja, antes que o livro se estabelecesse como O instrumento, já contou com a concorrência de outras plataformas que, rezava a modernidade, seriam substitutos certos da leitura. Não é sem razão que o jornal impresso teve nada menos que sete vezes o anúncio de seu fim...a cada nova tecnologia, a leitura passava a ser ameaçada. É óbvio que foram afirmações afoitas que não coincidiam com a realidade. A leitura continua, mas cada vez menos procurada, mesmo que sempre tenha sua importância realçada. O e-book veio para "chutar" o objeto em si, mas não resolveu o problema da leitura: tropeça-se na virtualidade do texto justamente porque não há leitores, tenha quantos e quantos textos literários disponibilizados. Não é isso o que importa. A freqüência com que ocorrem as tais feiras dos livros me incomoda diante desses dados: como podemos vender cada vez mais a cada ano e termos cada vez menos leitores? Me parece que os livros são comprados por "senso comum", pela ausência de justificativas contrárias a ele....aliás, apesar da "não" leitura, tê-los ainda é um ponto de valorização social. Talvez seja por isso que os textos acadêmicos da atualidade temam a opinião pessoal do autor, mas valorizem o abaixo-assinado bibliográfico que se segue a um texto sem conteúdo. Por acaso, a produtividade da ciência brasileira não é medida pelo bem que essa ou aquela pesquisa leva à sociedade, mas pelo número de citações (do autor) em outras publicações. A falta de leitura é estimulada até para a entrada nas universidades: exige-se a leitura de clássicos pelos adolescentes (não sei se Machado de Assis, Lima Barreto, José de Alencar são leituras adequadas aos jovencitos....), mas se permite ou se faz vista grossa para as sinopses e explicações técnicas voltadas ao candidato "acertar" a pergunta. Ou seja, é um engodo....não se leu, não se aproveitou a riqueza do texto para valorizar o próprio vocabulário. Creio que há uma conspiração silenciosa contra o livro... nos teclados dos computadores e seus chips e o próprio mercado, com a concordância da própria estrutura do governo (não só o medíocre atual, mas os demais), que insistem que qualidade de vida é andar de avião, comprar carro e se endividar. Há uma política que privilegia o hedonismo como forma de vida, não o esforço individual para fortalecer o coletivo, nos tornarmos melhores como cidadãos. E cidadão, não é apenas o que berra apenas pelos direitos, mas principalmente, aquele que enxerga os deveres para com o mundo. E o dever de folhear livros é algo mais que um prazer individual, é algo que exige esforço, trabalho, determinação para mergulhar nesse mundo do imaginário e trazer as ideias para o real. Não é fácil e nos faz falta. Cada vez mais.

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