Quiça eu esteja errado e haja algo depois da morte. Que exista um D'us e não o deuses das religiões, uma entidade que se importe com o mundo que criou, ainda que rapidamente, em seis dias e descansado no domingo. Queria se convencido, mesmo que nada de paraíso, mar de amor, vida eterna, alma, outra dimensão, mundo dos espírito seja verdade... Não consigo, mas queria acreditar, para ser conformado com a ideia de que entes perdidos possam ser uma estrelinha a brilhar no céu, um cometa, etc... A dor da perda é imensa justamente porque não tenho mais a esperança de conviver com aqueles que me fazem bem, que me davam sua companhia de defeitos e qualidades... Sou imperfeito e os outros também são.
Perdi minha companhia, meu cachorro...o Argos. Entre muitos outros cães, era o meu amigo. Acho estranho falar da perda de um animal... Lamento perdê-los, mais ou tanto quanto muitas pessoas...sou responsável pela vida de alguns deles, alguns se foram sem que eu pudesse fazer alguma coisa, simplesmente morreram porque suas vidas são menos longas que as nossas. E se metem em confusões que os levam a esse outro mundo que me recuso a aceitar existir.
Mas como disse, gostaria de estar errado...de acreditar que posso ter uma chance para pedir desculpas pelas coisas estúpidas que já fiz, para agradecer a convivência, pelo trabalho que dei, por minha negligência com o outro...queria estar errado e crer que terei uma segunda chance de não ficar mal com ninguém.
Meu Argos se foi, eu o matei, o entreguei para a eutanásia. O fiz para reduzir a dor dos tumores que o consumia, que dificultava seu respiração, o convulsionava, o torturava .. mas na verdade, o fiz por ser seu amigo e querer estar errado, de esperar encontrá-lo do outro lado, em algum lado... de vê-lo sempre a buscar ficar próximo, olhos me seguindo, focinho apontando para meu rosto... quando não patas sobre meu peito... Eu o matei por ser seu amigo e ninguém mais que um amigo pode fazê-lo...livrá-lo desse mundo onde uma doença dessa também é a suposta criação desse D'us que eu quero crer existir. Não pude fazer nada para mantê-lo nesse mundo...ele me esperou para se ir, ou para que eu me despedisse e decidisse por ele.
Acho que os cães existem para isso, para nos ensinar mais que nos fazer companhia...a dizer: isso não é importante, o importante é que estamos juntos, que estamos bem e nos encontramos sempre que queremos e podemos. Nos diz que as estrelas e a lua existem para serem cultuadas em uivos pela noite. Que o seu espaço é o nosso espaço. Que o Sol é nosso cobertor. Que a leitura de um livro é bom, mas ser o conteúdo de suas páginas melhor...
Ulisses reencontra Argos depois de 20 anos... |
...o cão finalmente morre, magro, esquálido e sobre um monte de estrume... |
- D'us, que eu esteja errado e ainda possa encontrá-lo! Quiça...
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