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quinta-feira, 30 de abril de 2020

Em meio à pandemia, experiências...

Estamos mergulhados até o pescoço com essa gripezona.  Quando escrevo esse texto, cerca de 5 mil brasileiros já se foram e os hospitais começam a entrar em colapso.  Evidentemente, está claro que o sistema de saúde no Brasil não estava nem de longe preparado para uma tragédia desse tamanho...aliás, nenhum país estava.  Apenas alguns puderam dar resposta positiva de imediato, mas apresentam características próprias e específicas.  A própria China, aparentemente de onde surgiu o paciente número zero, a superpopulação poderia ser uma grande problema, mas a própria estrutura ideológica da saúde é baseada no público, no atendimento à população e não ao comércio... Lembro de ter lido um livro, "Henfil na China", do próprio humorista, que visitou aquele pais nos idos dos anos 70 e um comentário me impressionou na época e agora tornou-se marcante: a figura dos "médicos descalços".... na verdade, se fosse no Brasil, esse pessoal, milhares de profissionais de saúde, formados não na medicina universal, mas especializados nas moléstias que acometiam a população de milhões, não teriam sua formação aprovada para atuarem na saúde.

Medicina Chinesa - História
Cartaz chinês sobre os médicos pés descalços


Tratava-se de profissionais formados nas doenças do povo, que perambulavam pela China, como representantes do governo chinês, utilizavam seu conhecimento acadêmico para associar a ciência com o que colhiam de sabedoria popular, agregando experiências.  Eram chamados de "descalços", porque o trabalho era feito da forma mais simples possível, espartana, dando o primeiro atendimento ao doente.  De acordo com a seriedade de cada caso, o doente era encaminhado para centros mais especializados naquele caso.  Diferente dos distribuidores de remédios (e alegria dos empresários da saúde), os "médicos descalços" , em vez de terem uma postura curativa, tinham atitudes preventivas (semelhantes à formação dos médicos cubanos que atuaram no Brasil e foram expulsos pelo fascista) e intervinham no saneamento básico, na vida das pessoas com vista a não propagação de doenças.  Eram o ponto mais avançado da capilaridade do sistema de atendimento médico...

A Medicina na China revolucionária - A Nova Democracia
Atendimento 

Coisa de comunista mesmo.  Se algo é ameaça ao coletivo, fecha-se, muda-se, transforma-se....baseado não em fervores religiosos, mas até em filosofia de Confúcio... Lembre-se que a China foi fechada durante anos e, ao mesmo tempo que impedia o contato com o exterior, foi adaptando sua logística às suas necessidades.  Espanta-se com os produtos chineses que estão em nossas prateleiras? Pois então.  Por essa preparação, não é de se espantar que os chineses dessem um banho e impedissem que o covid-19 desse as cartas e torpedeasse a economia, a segunda do mundo... Fechou cidades, bairros e ruas...sem discussão, usando a política do coletivo...todos os órgãos públicos voltaram-se à ciência para colaboram com o esforço nacional... Havia já uma nação educada para enfrentar dificuldades coletivas. Conseguiram.

Momentos da Fogui: Henfil na China: antes da Coca-Cola - Henfil
O livro que mencionei

Por outro lado, a primeira economia mundial, a maior potência econômica do planeta, em primeiros momentos, ignorou ou menosprezou a força do vírus...deixou que ela se expandisse até dentro de suas fronteiras, certos que seria a oportunidade para resolver dilemas geopolíticos... Um sistema de saúde baseado no privado, na exploração privada da saúde e do atendimento médico... Taí o resultado, a capilaridade privada: até o momento, 50 mil norte-americanos desassistidos pelos sistemas de de saúde privados estão mortos... O privado, vendo o lucro desabar, acenam para o público.... pestes, pandemias, epidemias etc...não são bons negócios no atacado...
Não vejo contradição alguma o fascista e seus filhos negarem a gravidade do Covid-19, menosprezarem as mortes e "ignorarem" o colapso do sistema de saúde no Brasil... Tem a lógica simples do lucro, que enxergam nessas situações oportunidades para ganharem mais dinheiro.  É a lógica do capital, que insiste na manutenção das atividades empresariais para evitar males futuros, quando esses males "futuros" estão no nosso presente.   O Brasil se arrastou para o modo norte-americano de ver a vida através do dinheiro, custo e bens.. Transformou a qualidade de vida em consumismo....não tendo sequer condições para isso, já que nossa economia é de uma dependência impressionante dos ares que nos veem do mercado financeiro internacional...  A capilaridade do nosso sistema de saúde, presente em nosso SUS foi torpedeado por governos seguidos...ouvimos até de um governo dito de esquerda (Dilma), a ideia da criação de um plano PRIVADO popular, uma aberração que foi esquecida pela ocorrência do impeachment;  mas vimos os hospitais universitários, que já haviam sido transformados em hospitais gerais de atendimento à população, em órgãos de atendimento gerenciados por uma empresa dita pública (EBSERH), mas de caráter PRIVADO, que só não foi presenteada aos planos de saúde porque estes não quiseram se arriscar nesse negócio... Mas são entidades que ainda vivem dependuradas nos recursos públicos, apesar de sustentar gratificações privadas à sua administração.

Suprema Corte dos EUA mantém reforma de saúde de Obama - Mundo - iG
No EUA: 50 mil mortos, por enquanto

Nos primeiros ares da contaminação (me pergunto como nosso serviço diplomático, tão atento ao "comunavírus", não se antenou diante da gravidade e daquilo que acontecia na China...será que há algum relatório? alerta?), o sistema privado de saúde jogou a responsabilidade ao precarizado sistema público...e esse respondeu à altura....se a tragédia não é maior no Brasil, muito maior, com a vista nos EUA, se deve ao que resta de público.  Olho nos especialistas, consultores, vejo a formação no sistema público de saúde, em universidades públicas, em órgãos públicos.  A dança dos ministros de saúde é claro: o Mandetta nada mais era que um representante de um plano de saúde no governo e sua atuação, forçosamente baseado na ciência (quando bate a tragédia, se lembram que a balbúrdia acadêmica é a solução) comprometia os mais perversos desejos do capital...não apenas por responsabilizar a rede privada de ações, mas socializando o uso de equipamentos... foi o bastante para ser substituído por outro médico da área privada, que, por mais que esconda suas intenções de reverberar as escrotas palavras do fascista presidente, assume a gravidade da situação, sem ao menos dar soluções para as ações governamentais.  Não esqueçamos que o novo ministro, em vídeos, fala de custo sobre quem deve ou não ser salvo nos investimentos...

PS: Conversando com um militar da FAB, lotado na Base Aérea de Santa Maria (Ala 4), ele comentou que as instalações tanto militares como civis, igualmente públicas, eram planejadas de forma complementares e preventivas, para cenários que vão de impactos leves a graves... Seria o caso da Base Aérea e universidade, vizinhos de muro.  Não sem razão, várias pessoas comentam a existência do prédio do HUSM praticamente na cabeceira da pista de pouso das aeronaves militares...  Segundo o conhecido, isso seria proposital.  Existe risco? Sim....ainda durante o final do século passado, anos 80 ou 70, diversas aeronaves sofreram acidentes (inclusive um Hércules, C-130) ou panes na reta da pista...ou seja, tendo o prédio do HUSM na alça de mira da trajetória de aviões quase sem controle... Nunca aconteceu nada.  Por enquanto.  Agora, porque o HUSM foi construído ali?  Seria para impedir que ataques aéreos de inimigos (a paranóia militar) se utilizassem da reta e despejassem suas bombas na extensão da pista, impedindo a decolagem e aterrissagens para uma reação brasileira...  Ou seja, o HUSM estaria ali  para impedir um ataque frontal e, caso isso acontecesse, fosse motivo de protestos internacionais pela morte de civis inocentes...  Em outra ponta, estaria os prédios da universidade, pertencentes ao Centro de Tecnologia, cujo desenho foi baseado na intenção de se tornar complemento do HUSM e atender um número extra de feridos e atingidos por um ataque, que superasse a capacidade de atendimento do hospital...  Por isso, o prédio em questão teria rampas e não escadas, portas mais largas etc.... Ao menos, me parece, havia uma previsão para cenários de emergência.

Sobre o Centro de Tecnologia - CT
Centro de tecnologia da UFSM: hospital de emergência?

4 comentários:

  1. Muito lúcida sua análise ...a continuar a política deste grupo neofilo que utilizam práticas de avivamento do ódio como forma de manutenção do poder não mais em horas como os pastores utilizam em suas "igrejas" mas sim transformando o pais que hoje e deles em um grande templo de desvario de ódio...não e a toa que semultiplicam...

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  2. Que texto prazeroso de ler meu caro amigo. Gostaria de ressaltar sobretudo; que no centro de mais uma polêmica envolvendo o Presidente do Brasil, há também os residuais da retórica pífia e devasta do negacionismo do holocausto, mas que agora, Bolsonaro e seus seguidores radicais atribuem um novo sentido. Até hoje existem pessoas que rejeitam a ideia de que a Alemanha nazista não aniquilou judeus durante a Segunda Guerra. O ex-presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad (2005-2013), por exemplo, já levantou várias dúvidas quanto a existência do holocausto enquanto que os extremistas religiosos também fazem uso deste recurso aqui no Brasil (como foi na época da Alemanha), como uma forma de deslegitimar o conhecimento científico. A Igreja e os Bancos, parecem dar continuidade à mesma retórica...

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  3. Que texto esclarecedor e didático, sou uma aprendiz devotada, gratidão!!

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