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segunda-feira, 8 de janeiro de 2018

Baleias, baleeiros ...

Quando li Moby Dick, assisti algumas das muitas versões para o cinema, sempre me emocionava o encontro do homem com o leviatã... Me desculpem, mas a compaixão pelo animal só surgiu com a maturidade e a idade.  O que eu via era uma aventura, a jornada, a viagem... O mamífero era apenas a peça essencial para dar sentido à história dos homens.  Somente recentemente, retomando o interesse pelas coisas do mar, descobri a crueldade que o homem é capaz pelo lucro...e não só por ele, mas pela própria necessidade humana e moderna... As jubartes, cachalotes, francas não era perseguidas apenas pelo lucro de alguns, mas pela luz que iluminava as ruas das cidades...pela carne que alimentava e até pelo espartilho das donzelas... Para isso, quantos homens se fizeram ao mar...arpões nos braços, em pequenas embarcações, presas aos "monstros" que os arrastavam por quilômetros até que sucumbissem....uma festa de sangue, gordura e carne... Estranhamente, não se conta em nossa literatura o engajamento de parte de nossos homens do mar nessa faina... Diferente daqueles que vinham de outras paragens, não tinham nossos caçadores embarcações ou navios-fábricas que perseguissem as baleias pelo alto mar.  Partiam da praia, em canoas, escaleres até suas vítimas, cravavam seus arpões em aproximações furtivas... às vezes, eram jogados ao mar pelas convulsões de dor...morriam e eram esquecidos... Morta, arrastavam o animal até uma praia ou nas chamadas "armações"... cortadas em filetes, gordura retirada, assim como o espermacete.... carne distribuída aos pobres...  Muitas casas do litoral brasileiro foram construídas com argamassa "ligada" por gordura de baleia. Não sei o que sentiam esses homens...mas a rotina dessa morte, da chuva "garoada" de sangue nos estertores da agonia não devia dar a tal adrenalina..era apenas rotina, a lida cotidiana.  Deviam pouco ganhar, mas devia ser compensador para aqueles que - sem outra alternativa - se arriscavam no barco do patrão...  Descobrir no homem que arpoava o homem que lutava pela própria sobrevivência (assim como de sua família)  muda o foco... Os que matavam, faziam o trabalho sujo são sempre os que são explorados, aqueles que sempre caminham no fio da navalha.. é o homem comum, que não vê a si mesmo como o matador, mas como vendedor de sua força do trabalho, o único bem que tem.  Hoje, me emociono com a morte do animal... e me entristeço quando penso que homens enxergavam toda a terrível e sanguinolenta  atividade como algo cotidiana... Vejo naquele homem que matava a baleia o mesmo distanciamento daqueles que se aproveitavam dos benefícios da morte daqueles mamíferos...

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