: subs. masculino, livro antigo, calhamaço, cartapácio, livro

segunda-feira, 15 de janeiro de 2018

Sobre o Lula preso ou ressuscitado


Dia 24 de janeiro, o ex-presidente Lula será julgado em 2ª instância, no Rio Grande do sul...Já foi condenado em primeira.  Logo, poderá ser - além da confirmação da sentença - preso.  Não desejo isso, por mais que queira que justiça seja feita, mas o que temos aí é o judiciário burguês, que atende aos interesses da classe que não é minha.  Logo, tenho a impressão que será condenado.  Sem perder o foco que o ex-presidente está sendo hostilizado para que não participe das eleições de 2018, tenho para mim que as acusações que lhe fazem precisam ser esclarecidas.  Afinal, realmente existem lacunas a serem preenchidas e, por mais que os petistas e aliados evitem falar ou relevem, existe um triplex, existe um sítio em Atibaia, existem containers com objetos do Planalto etc... seu patrimônio cresceu absurdamente nesses anos de poder .  E pelo papel modelar que assume diante do eleitorado, ignorar significa se omitir. Mas outros fazem pior, dirá o mais simplório dos simpatizantes petistas, e nada acontece.  Sim, mas o mundo da corrupção é deles, da direita, não daqueles que cresceram na luta sindical, social, dos trabalhadores... Esperar que o Lula seja julgado (ou não) com igualdade pelo mesmo judiciário que se omite diante de Aécios e quejandos, é dizer: todos nós somos da mesma espécie.  E não somos.  A lei que aí está é reflexo da luta de classes, do domínio de uns poucos sobre os muito.  E Lula pode ter trocado de roupa, vestido um terno de grife e, até, bebido um vinho bom... mas será sempre um egresso do operariado. Sei que muitos petistas acham que isso é possível...e eu acho que é a surpresa pelo andar da carruagem que mais os atormentam.  Não faltou esforço para o PT querer se igualar aos demais: em primeiro, recusou-se a ir ao confronto, como seria de esperar de um suposto partido de esquerda e das próprias propostas de mudanças...pelo contrário, chamou os algozes, derrotados e na pior nas eleições do início do século, e permitiu que os mais retrógrados políticos se recuperassem politicamente dentro do governo.  Governabilidade, diziam, mas a estratégia não precisou fazer água....ela nasceu morta.  O próprio governo petista tomou o rumo de administrar "melhor" o capitalismo, aproveitando os bons ventos do neoliberalismo no país... Comprovando isso, mentiu descaradamente dizendo que a dívida externa estava paga, ao mesmo tempo que assinava acordos de colaboração com o Banco Mundial, FMI etc...entregou aos estrangeiros e ao sistema financeiro as terras tupiniquins.... Mostrou boa vontade com a burguesia e promoveu a reforma da previdência de 2003, um rascunho tímido mas impactante - sob a lógica nada social do capitalismo - que atordoam os aposentados e trabalhadores desde então.  O que se passa hoje na gestão Temer nada mais é daquela mexida na previdência, que permitiu distorções, desvios e falcatruas com o futuro dos trabalhadores.  Lado perverso de um governo saído da luta sindical, o governo não teve escrúpulo algum de usar as centrais sindicais governistas (CUT) para conter os trabalhadores... Aliás, relembrando, foi a própria CUT (do ABC) que encaminhou uma proposta de validar acordos locais sobre a própria legislação trabalhista... O investimento estrangeiro garantiu a estabilidade financeira, mas investimento é investimento...as conseqüências não tardaram...após privatizações, leilões e concessões, a crise veio ao mesmo tempo que Lula entrou em stand by, colocando no seu lugar o poste que é a Dilma...Só  para lembrar:  no final da segunda gestão lulista, a crise já se avizinhava e batia às portas e se dizia que o poste entraria na presidência para aplicar as fórmulas impopulares (e neoliberais), abrindo o caminho para o retorno do herói... O erro era contar com a concordância da própria... A reeleição foi raspando, nos 48 do segundo tempo...e no dia seguinte à divulgação dos resultados, a presidenta baixou o pacotão impopular... Deu no que deu.  Os "aliados" puxaram o tapete e humilharam a esquerda...de repente, a mediocridade de um governo vazio virou crime de responsabilidade. Diferente do Collor, que renunciou na iminência do impeachment, a Dilma saiu com o rabo entre as pernas falando em golpe.  Coisa estranha isso: golpe pressupõe que uma política é interrompida para a a inserção de outra....no caso, houve a continuidade da que estava sendo desenvolvida.  A máquina petista foi desarmada, e os mais de 30 mil cargos de confiança - sustentáculo militante remunerado - dissolveu-se.  Até hoje se vê sujeitos voltando às "bases" em busca de emprego.  Não há mais espaço para tantos profissionalizados.
Voltando ao julgamento do Lula....francamente...acho que será um favor ao Lula, como personagem da história política do país, que seja condenado e impedido de participar das eleições.  Em primeiro lugar, porque ele nada mudará e, por certo, dará continuidade à política do suposto golpista Temer... ele mesmo faz eco com a Dilma sobre a intenção de fazerem as ações que foram tomadas na área trabalhista, privatizações etc... E o que ele poderá prometer? Apenas um remoto retorno aos melhores tempos, aqueles que já passaram, onde o neoliberalismo internacional tinha o interesse de injetar recursos em um país endividado, mas que resistia. Já disse que não mexer na reforma trabalhista, na previdência, então, à vista do que já fez em 2003, nada fará...  E quanto à reforma agrária? Capaz... Se eleito for, será um governo cercado e incapaz de mover-se para qualquer lado que não seja o das alianças (que, aliás, sem fazer distinção entre golpistas e não golpistas, já estão sendo feitas para o período eleitoral) da direita.  Será, portanto, um governo inerte... Em segundo lugar...será duro apresentar alguma proposta diferente dos opositores....por força dos aliados à direita, sustentará o capitalismo com mero discurso de que é mais competente que o rei...e ficará por aí.  Em terceiro, creio que a figura histórica ganhará contornos que o desvalorizará como indivíduo que colaborou com o país para ser mais um político de duvidosa atuação... E se participar da eleição e perder? o que é uma possibilidade forte... uma pá de cal.  Enfim, um desserviço à história da esquerda no Brasil.  ficamos por aqui.

Nenhum comentário:

Postar um comentário