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terça-feira, 17 de março de 2020

Há mais um vírus no caminho...

"Há momentos em que, mesmo aos olhos serenos da razão, o mundo de nossa triste humanidade pode assumir o aspecto de um inferno, (...)"
Edgar Alan Poe


Um amigo me repassou a história, testemunhada por ele, no metrô paulistano: em plena hora do rush uma garota espirrou no vagão, entre estações...um vazio abriu ao seu redor e as pessoas bronquearam enquanto a menina gritava: "é rinite, gente, é rinite".  Em tempos de corona vírus, a situação é até normal.  Há o medo natural do contágio.  A rotina foi interrompida, sem dúvida, e não sabemos a que grau ainda será modificado nosso cotidiano.  Mas não é uma situação nova, inédita . Aos quase 60 anos, já passei por outras situações parecidas e sempre surpreendentes...a de doenças causadas pelo vitorioso aedes aegypt, peste suina, febre amarela etc.  Todas elas, com exceção do H1N1, eu passei à margem...nem da dengue, que ainda nos tocaia. Aliás, se nos desesperamos agora é justamente porque temos certeza de que não estamos preparados para enfrentar qualquer epidemia...não há qualquer tranquilidade de que poderemos enfrentar, já que até as doenças que já enfrentamos (veja abaixo as que me lembro de minha existência), ainda continuam fazendo vítimas e adquiriram o status de algo existente, próximo e que que só D'us pode nos salvar.

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A ditadura escondeu a epidemia de meningite

No entanto, a lembrança mais antiga que tenho é da epidemia de meningite, na década de 70, quando a doença grassou por São Paulo, com uma letalidade de 12 a 15%, um absurdo nível que a "bondosa" ditadura militar primou em menosprezar, ignorar e - caso acontecesse agora, certamente o Bozo a trataria como fake news ou golpe da imprensa - tardar a dar atendimento.  Somente a mudança de plantão no Planalto, com a saída do general Médici e a entrada do militar de mesma patente, Geisel, é que se tomou alguma providência...isso, depois que a meningite passou por sua fase aguda e passou a refrear as mortes, que nunca chegaram a ser estimadas, já que a censura  prevalecia e esse tipo de informação tinha severo controle.  Para se ver, o pânico e a falta de um sistema médico de prevenção e atendimento na saúde fez com que se recorressem a meios profiláticos que beiram ao charlatanismo: pedaços de cânfora colocados em saquinhos de pano e pendurados como colares nos pescoços das pessoas. A orientação era a de se respirar tendo a cânfora junto às narinas..na falta de outra coisa e contando com a sorte...
Outras duas lembranças subsequentes se relacionam com vírus mas não com seres humanos, mas me marcou a mente...uma delas é a do cancro cítrico, também na malfadada década de 70, quando hectares e hectares de plantações de cítricos foram derrubadas e queimadas para evitar a passagem do vírus...ou também da peste suína africana (PSA), inserida no nossos porcos através da vacinação contra a peste suína clássica (PSC)...os animais chegaram a ser mortos aos milhares a marretadas, ou fuzilados por soldados do exército.  Até hoje, na internet, há autores que defendem que a infecção de nosso rebanho suíno foi ato de sabotagem...

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Cólera

Cólera, causado pelo Vibrio cholerae..desde a década de 90 até hoje a coisa está pegando, mas parece que as autoridades se acostumaram com a coisa, atuando pontualmente e não mais buscando erradicá-la... pegando pesando em alguns países vizinhos e nos estados do norte brasileiro, onde a situação sanitária nunca chegou a um grau de eficiência e perfeição.  Por ser de regiões tradicionalmente não atendidas por saneamento básico, atendimento médico e por vítimas pobres, nunca chamou muito a atenção dos políticos...logo, ficou quase como doença crônica, natural entre nós.  Nem assusta mais.
O caso do sarampo, aparentemente, depois de ser uma presença constante e provocadora de milhares de mortes há décadas, havia sido contida pela vacinação em massa...no entanto, a crise venezuelana e a massa de refugiados no Brasil nos trouxe novamente, nesses últimos anos o fantasma do vírus Measles morbillivirus, altamente contagioso...também causou furor, principalmente entre os direitistas que se divertiam em criticar o governo de Maduro, alimentando a ideia de uma intervenção militar naquele país vizinho. O sarampo não se transformou em algo pior porque o Brasil já tinha na agenda da saúde a cobertura vacinal preventiva e eficiente.

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Ah, o aedes...

E como esquecer das doenças transmitidas pelo maldito aedes aegypti, como a dengue, zica e chinkungunya? Um insetinho importado da África que desafia governos e governos...e anualmente causa vítimas entre os homens, com previsão de aumento em quase 350% de contaminados com a dengue em 2019 em relação ao ano passado, ou seja, 450 mil doentes portadores do arbovírus até abril de 2019. 
O paranóico dessa história é a acomodação das autoridades em remediar a situação, tentando impedir que chegue a índices alarmantes... Para o aedes aegypti sobreviver basta sobreviver às nuvens de veneno lançada sobre as populações nos bairros periféricos principalmente, que os contém (além de matar todos os insetos que topam com a nuvem envenenada, como as abelhas) para voltar no próximo verão.  Apenas em duas situações históricas foi vencido em batalhas: no início do século XX, que exigiu uma mudança urbana significativa no Rio de Janeiro, quando houve uma remodelação arquitetônica de toda a cidade e em várias capitais na década de 50...quando houve adaptações estruturais que detiveram o desgraçado.  Depois veio a acomodação e a implantação da indústria da doença... O mosquito não resiste a medidas preventivas. 
A febre amarela ocupa um capítulo à parte, por ter sido sempre tratada de forma oscilante, vezes com seriedade, vezes com desdém...a ponto até de ter a sua vacina "fragmentada", ou dividida para enfrentar a recente pandemia (isso sequer é aceito internacionalmente).
Acredito que tenha sido vitimado por alguma mutação do vírus H1N1, a influenza, quando em 2009 ou 2010 houve um aumento dos casos...não houve complicações e me livrei sem hospitalizações....


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H1n1

Bom, o caso é que a atual situação com esse Corona Vírus não será diferente.  Existe o pânico, a histeria e a consequente acomodação das autoridades... Não podemos esperar (esqueçam!) que o atual governo, com o presidente que temos, possa dar conta de uma situação que deveria ser mais preventiva que curativa.  A china e a Itália, seguida de outros países partiram para a criação de cordões sanitários, enquanto no nossa Brasil, os bisonhos governantes neoliberais acreditam na etapa curativa, ao mesmo tempo que jogam na população a responsabilidade em torno do contágio... Não há como acreditar na seriedade de um governo cujo mandatário diz e se contradiz e menospreza a doença, como se fosse algo distante e golpe da imprensa...  Passaremos por essa epidemia se mantivermos a solidariedade e a compaixão de nos cuidarmos, de evitarmos o pânico e mantivermos nossa atenção voltada ao coletivo..a realidade é que muitos ainda serão infectados, muitos manifestarão a doença e muitos morrerão. A progressão é impressionantemente alta devido a alto contágio.  A priori, não temos na rede pública leitos suficientes para cuidar dos doente (mas, quando tivemos?). Projeções indicam a existência de 4 mil contaminados no Brasil e a projeção de 30 mil casos confirmados na região metropolitana de Sampa até o final de abril. No Brasil, ainda não houve mortes (houve, em 17 de março, morreu a primeira vítima), mas nos países vizinhos sim....


Um comentário:

  1. ...jogam na população a responsabilidade em torno do contágio..O que há por detrás disso?

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