: subs. masculino, livro antigo, calhamaço, cartapácio, livro

terça-feira, 19 de novembro de 2019

Antes de Evo, Nasser e Jânio

 A Bolívia resiste
O Egito resistiu

O Brasil não


A Crise boliviana e a renúncia de seu presidente, Evo Morales, me surpreendeu... Por coincidência, reli há semanas o livro "Se me deixam falar", da escritora gaúcha Moema Viezzer, um relato colhido da mineira boliviana Domitila Barrios de Chungara,  um tremendo depoimento que se converteu num dos mais disputados livros na década de 80....  Ainda pensava que tudo mudara naquele altiplano, a comunidade indígena se converteu em dona de seu espaço, a economia dependente e entregue aos estrangeiros se transformou em algo coletivo, evidentemente, sempre com algo ainda por ser feito...mas não deu tempo.  Naqueles tempos que corriam e Domitila se consagrou como líder sindical nas minas Siglo XX, a política se baseava na caixa de ressonância das diretivas externas, através de golpes militares consecutivos e freqüentes...um atrás do outro...a permanência no palácio do governo dependia do quanto que se oferecia aos gringos... a miséria e a exploração eram inimagináveis, mesmo para os brasileiros e nossa terrível miséria... tudo pelo gás, cobre....minérios.... De 1964 a 1984, os militares pintaram e bordaram uma das mais terríveis ditaduras da América Latina...as mudanças frequentes baseavam-se em rixas internas e dividendos, já que todos os ditadores fechavam o apoio aos Estados Unidos em um anticomunismo doentio... O retorno à democracia foi lento, muito lento...até que em 2005 foi eleito em votação à presidência...algo estupendo e surpreendente...foi uma votação avassaladora...
Posteriormente, a pobreza foi reduzida de 36,7% a 16,8% até 2015.  A desigualdade de renda desabou...
Combateu o analfabetismo (e venceu!!!), miséria e pela dignidade humana.

 Por causa disso, o presidente boliviano foi premiado por uma alta popularidade durante a primeira década que esteve no poder, sendo reeleito em 2009, em 2014... No entanto, em 2019, foi eleito com uma diferença de mais de 10% dos votos, com denúncias de fraudes, corrupção... Concordou em novas eleições, mas renunciou horas depois e acabou se exilando no México....



O que passou com esse governo e essa incrível renúncia...um governo que, afora as crises inevitáveis de governo, representava um dos triunfos da esquerda?  Não sei ao certo, demorei para escrever esse texto por não entender as entrelinhas da grande imprensa..me parece surreal que isso acontecesse.  Seria mais fácil e compressível se houvesse tido um golpe nos moldes antigos, mas não...houve uma renúncia após a concordância com novas eleições.  Ou seja, houve a aceitação de que o primeiro turno das eleições bolivianas foi fraudada... Seria a medida certa, honesta... Mas porque a renúncia? O exílio? Depois de anos de um governo bem sucedido...

Lanço uma ideia...para chegar a ela, recorro à renúncia de Jânio Quadros... algo também surpreendente naquela ocasião e facilitou em muito o avanço dos fascistas no Brasil, o apoio aos militares, o golpe de 64 e a noite de vinte e três anos a que fomos submetidos... O então presidente brasileiro foi eleito também com uma votação estrondosa, notabilizou-se por uma proposta saneadora ("varre, varre vassourinha") , anti-corrupção, que faria isso e aquilo, uma plataforma que oscilava entre a esquerda centrista e a direita populista... Não conseguiu governar, em especial quando resolveu condecorar o guerrilheiro Ernesto Che Guevara, na ocasião ministro cubano... Li em algum pasquim (ou no próprio Pasquim), que alguém havia sugerido a Quadros uma renúncia à la Nasser...ou seja, se aproveitar enquanto tinha popularidade para criar uma situação onde seus apoiadores saissem em sua defesa, agregasse força que garantisse a governança.  Jânio assim o fez, escreveu um bilhetinho de renúncia e pediu para ser entregue no congresso...Seu mensageiro assim o fez, entregou o papelzinho e voltou ao presidente... Jânio contava com o apoio dos deputados e senadores para reverter sua própria renúncia...pensava ter maioria no parlamento... O que desconhecia era que a decisão de renúncia é unilateral, do presidente e mais ninguém, não passava - como queria - pelo endosso dos legisladores... Deu no que deu....

Nasser, ou Gama Abdel Nasser, foi presidente do Egito, modernizador, ativo que governo com braço de ferro aquele país, baseando-se em princípios nem sempre elogiáveis, mas com fachada democrática... Sem delongas,  uma crise se abateu sobre seu governo e abalou a sua popularidade...ele ameaçou renunciar e o povo reagiu, dando a Nasser a chance de continuar no poder, mais forte e legitimado...até morrer ionfartado em 1970... Com ele funcionou, com Jânio não ...porque funcionaria com Evo. É, é isso que eu acho... que a direita está por trás, os ianques estão contentíssimos, isso não tenho a mínima dúvida... Mas creio mesmo que Evo Morales percebeu que seu governo havia sido pego por resvalos de desonestidade (sua própria longevidade no poder pesou contra), tentou contornar com a concordância com novas eleições... foi pouco, já que a direita se organizou rapidamente e, mais, tinha o apoio de parte significativa da população... Tentou a renúncia, como Nasser e Quadros...deu em nada... Exilou-se... A esquerda perdeu uma grande chance para mostrar-se a que veio.

Resultado de imagem para bolivia historia do pais evo morales















Nenhum comentário:

Postar um comentário