Nesse contexto, o judiciário coloca em liberdade o ex-presidente Lula. Para mim, foi um acidente que ele estivesse entre os libertados. A ação votada pelo STF não era para libertá-lo, mas sim - segundo os advogados responsáveis - para beneficiar empresários, políticos etc. De qualquer forma, a ação pedia correção a algo que contrariava a Constituição e, mais, ao princípio jurídico que iniciou esse texto. Quem pode cumprir pena antes de ser considerado culpado? Ninguém...nem o mais terrível assassino. Não significa que a prisão em 2ª instância impediria que bandidos, pedófilos e assassinos fossem para as ruas. Não, pelo contrário. As leis brasileiras já impediam que os criminosos ganhassem a liberdade e não é a toa que as prisões estão superlotadas com mais de 700 mil presos. É para isso que existe a figura da prisão preventiva. É ameaça para a vida, para a sociedade e/ou andamento do processo, assim como há o risco de fuga? fica preso. Responder processos em liberdade é um pressuposto existente não apenas por uma questão técnica, mas filosófica...com a prisão em segunda instância, deu-se a impressão de uma justiça rápida, quase eficiente, mas fundamentalmente, injusta. A despeito de uma possível absolvição posterior, em instâncias (temos quatro) superiores, um réu se torna culpado e paga sua pena antes. É um paradoxo que desceu garganta abaixo e até o mesmo STF se engasgou com isso. A lava-jato deixou de ser o ícone da justiça... Surfando nessas prisões antecipadas, iludiu-se que aqueles presos, detidos, réus em geral teriam suas penas decididas com rapidez, a bem do país. Os juízes envolvidos pintaram e bordaram propagandisticamente...sabemos hoje que não houve justiça, mas adequações a princípios jurídicos. Levou-se em conta convicções: os procuradores da lava-jato - segundo o Deltan Dallagnol - trabalhou com convicções e certezas em cima da propriedade do triplex para a condenação do Lula, que se esqueceram de prová-la. O Triplex em pauta foi leiloado pela construtora há pouco. Mesmo assim, o ex-presidente ficou preso (mensagens divulgadas pelo Intercept demonstraram que - ainda que não aceitas legalmente - tanto Moro como os procuradores conspiraram acintosamente para impedir a participação de Lula nas eleições. O fato de Moro ser atualmente o ministro da Justiça aponta ainda mais a afirmação dessa conspiração)...
Outros ditos criminosos sairão, não tanto quanto se propala, mas não porque as portas das prisões foram abertas, mas porque o trabalho do judiciário foi mal feito, muito mal feito...voltado a atender justamente à elite, os políticos e poderosos... E o que se viu é que libertou um ícone da oposição, a única força política que pode fazer frente ao fascismo do neoliberalismo. É por isso os gritos da direita estremecida, temerosa... vem no recém libertado uma ameaça, por isso gritam.
As ações no Congresso em torno a transformar a prisão a partir da 2ª instância é, para mim, inócua. O tal princípio que mencionei várias vezes aqui impera: o réu somente pode ser preso após sentença final. Se querem rapidez, uma reestruturação no judiciário e mal-vista pelo próprio, é necessária. Mas não há como abreviar os julgamentos: sempre será necessário o ponto final, o momento que nada mais se pode fazer. Poderemos prender, como prevê a legislação atual (e até aprimorá-la), mas se tratará de critérios que faremos valer a pena. Exatamente como existe agora.
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