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quinta-feira, 12 de dezembro de 2019

Jornalismo: diplomas, registros e direitos destruídos






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O fim da história do jornalismo?

O registro profissional de jornalista está ameaçado pela MP 905. Ou seja, o jornalista deixa de existir na prática como categoria.  O diploma, critério para o exercício de jornalismo, já era há tempos...capenga desde 2009, quando o STF resolveu enxergar inconstitucionalidade na obrigatoriedade de formação universitária para receber o registro profissional.  Agora o fascista de plantão na presidência ataca o registro em si.  É a pá de cal para a destruição da profissão, retirando o direito básico a pertencer a uma categoria.  Não só os jornalistas, na área de comunicação o ataque atropela os radialistas e os publicitários...simplesmente o governo, para agradar empresários, desmantela o filtro básico para o exercício da profissão.  Para consegui-lo, o jornalista em potencial tem de cumprir critérios, tendo como eixo principal o diploma universitário.  Há décadas que os patrões da imprensa questionam a obrigatoriedade do diploma, em especial, para desmontarem as obrigações trabalhistas da profissão.  A carga horária de trabalho, de 5 horas diárias (+ duas extras) sempre feriu os bolsos dos empresários da área, que querem não profissionais, mas escravos presos ao trabalho, respirando redação "trocentas" horas por dia e sempre disponíveis para o trabalho.  Pimenta nos olhos dos outros é refresco.
Durante todos esses anos, houveram tentativas para exterminar as conquistas dos jornalistas.  A categoria, que conseguiu o direito ao registro em 1979, nos anos derradeiros da ditadura militar, já amargou até a extinção da Lei de imprensa (5.250/67) que garantia fórum especial de julgamento para o profissional em exercício profissional.  Foi simplesmente jogado no código penal e cível.  Não que a Lei de imprensa tivesse protegido muito  durante sua vigência...criado para inglês ver, com a intenção de mostrar o respeito à liberdade de imprensa e expressão, essa legislação não tinha lá grande valor prático...simplesmente os militares ignoravam a sua existência e prendiam, torturavam e matavam os jornalistas.  Quando não, desapareciam com eles.  O Herzog que o diga.
Os patrões, mesmo aqueles liberais, combatem o diploma e o registro... A presença de um fascista no poder dá toda a tranquilidade para se exterminar conquistas dos trabalhadores, sua forma de organização e defesa...e colocando sob cerco a própria liberdade de exercício profissional.  Retirado o diploma, os sindicatos ainda mantiveram a responsabilidade de filtrar aqueles que buscavam acessar a profissão.  Com o final do registro, cai por terra essa barricada.  Abre-se a porteira para o ingresso nesse universo, ao gosto dos empregadores...desaparecendo até o piso salarial, carga horária máxima etc... tudo ao gosto dos empresários que já foram beneficiados - ainda em 2019 - por flexibilizações no tocante à contratação por tempo limitado e outras coisas.  Sem dúvida, uma agenda planejada. Há muito que temos no jornalismo a invasão de profissionais de outras áreas, contratados como colunistas, cronistas etc...agora, o cotidiano do noticiário será - com a MP 905 - tomado.

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Notícia do dia que embrulha o peixe.


Um artigo (https://exame.abril.com.br/carreira/estas-profissoes-podem-acabar-ate-2030-ao-menos-para-os-humanos/) aponta que profissões serão exterminadas por causa do avanço da tecnologia, dando ao jornalismo como conhecemos um fôlego até o ano de 2030. Reporta a articulista (Camila Pati) que os avanços técnicos irão preterir a ação humana direta...e o jornalismo apenas vai requerer a ação de programadores das informações (até que as próprias máquinas façam isso), em ações acessórias.  O próprio jornal tem novamente sua morte decretada, como foi na invenção do telégrafo, rádio, TV, satélites, internet...)... Na prática, o homem, o jornalista propriamente dito deixará de ser o agente direto da apuração e terá suas obrigações fragmentadas (e, logo, remuneradas de acordo com o valor que lhe dê o mercado) em específicas e limitadas...  Já vejo estudantes serem contratados como "assistentes de conteúdo", uma manobra para contratação de mão-de-obra especializada mas contornando as regras da profissão... Se vê que os empresários antecipam os acontecimentos... A isso chamam modernidade.
Está certo que os empresários, governo fascista e segmentos que os seguem cumprem o seu papel de servidão à elite.  Não se espera nada mais deles. São assim.  O problema é que a categoria dos jornalistas colaborou com essa situação.  Foram muitos os erros.  O principal deles é o afastamento do profissional do próprio sindicato...alguns colegas somente tiveram o único contato com o órgão encarregado de sua defesa no momento do registro.  Nenhum outro. Anos e anos, o número de faculdades de jornalismo despejando focas no mercado (contam de 3 a 5 mil por ano) e os sindicatos se adaptaram a viver através de pequenos grupos políticos sustentados pelo imposto sindical... Não houve a tentativa de aproximação de novos filiados, não houve a tentativa de aproximá-los da defesa de seus próprios direitos.  Na prática, o individualismo pregado pelo neoliberalismo encontrou eco entre os novos jornalistas... Por outro lado, os cursos de jornalismo primaram em oferecer o conhecimento técnico para o mercado e não para a sociedade... O conhecimento para o mercado significa preparar o estudante para satisfazer a relação custo-benefício, não ser um profissional questionador e muito menos, crítico.  Assim sendo, os cursos se tornaram ambientes "limpos" , assépticos..  Ao mesmo tempo, a academia transformou-se em possibilidades de emprego, através dos programas de pós-graduação... Bolsas de mestrado e doutorado (a facilidade e o deslumbramento com a apresentação de trabalhos no exterior e publicação de artigos em revistas tidas como científicas temperam essa relação) transformaram-se em salários...e a entrada desses mestres e doutores sem passagem pelas redações afastou ainda mais os estudantes da graduação da realidade. O que é passado em sala de aula que não seja algo colhido em literaturas específicas? A ausência da realidade facilitou a ação dos tecnocratas da direita: a profissão está com os dias contados.  Sequer me aprofundo na questão da imposição de linhas de conhecimento, como marca de eficiência ou qualidade... através de avaliações como o ENADE que mede o conhecimento do aluno DE ACORDO com o protocolo do que os tecnocratas acham como qualidade...ou nas avaliações físicas dos cursos com "mau" desempenho I(para os critérios definidos como qualitativos) ... Qual curso e quais instituições de ensino que gera? documentos contra si mesmo?  Em nenhuma avaliação se debate ou se cobra o papel do profissional em si, de sua cidadania e de sua função social, ou mais, do respeito que o estudante ou seu curso tem com o país e com o seu povo.  É uma mera avaliação do conhecimento técnico...bem ao gosto daqueles que, hoje, comemoram que poderão contratar quem eles queiram...sem precisar se preocupar com diplomas, direitos e registros.

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Desemprego

Em tempos bicudos para o discurso social, a MP 905 vai enterrar o jornalismo como carreira, num processo que se estende há anos, dando apenas um aspecto formal e inviabilizando seu exercício pleno, mas de fragmentos de um todo.  Os corredores dos cursos estão em silêncio, sem qualquer preocupação, como gado indo para o matadouro...

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Redações esvaziadas e mais máquinas

PS: A portaria do governo federal, número 2117, publicada no Diário Oficial de 6 de dezembro passado, prevê o aumento para 40% da carga horária permitida em EaD (ensino à distância) para cursos presenciais de graduação...


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